Aprendendo sempre
Irmão Hugo Bruno Mombach, FSC (**)
Como vai nossa saúde
emocional?
Todos os anos, a Arquidiocese do Rio de Janeiro
organiza no Centro de Estudos do Sumaré um curso para os Bispos do Brasil. Na
sua 29ª edição, o tema deste ano de 2020 foi “A dinâmica humana e espiritual da formação permanente dos presbíteros”, baseada na ‘Ratio
Fundamentalis’, publicada dia 8 de dezembro de 2016 pela Congregação para o
Clero, e na ‘Ratio Nacionalis’, aprovada pela Assembleia Geral dos Bispos do
Brasil e publicada dia 12 de outubro de 2019 como Documento nº 110 da CNBB.
Neste ano de 2020, o
curso contou com a presença de 119 participantes, sendo 66 arcebispos e bispos
titulares de dioceses, bispos auxiliares e eméritos e vigários episcopais do
Rio. Quatro conferencistas colaboraram na
reflexão sobre os vários assuntos estudados pelos participantes. Entre eles uma
mulher, a psicóloga Luciana Campos,
professora no Seminário São José em Niterói/RJ e autora de vários livros sobre
o assunto. Ela partilhou sua experiência no atendimento a sacerdotes de todo o
Brasil, tratando do tema “Esgotamento
existencial dos presbíteros: causas e pistas para ação das dioceses na
prevenção e tratamento”.
“A Síndrome de Burnout é o esgotamento
emocional, psíquico e laboral oriundo pelo excesso de trabalho. As pessoas em
geral não imaginam que os sacerdotes são acometidos por esses problemas, por
isso a importância de dar visibilidade à temática”, explicou. A psicóloga
contou que procura ajudar os sacerdotes a serem menos centralizadores,
aprenderem a delegar e confiarem nos outros, porque é impossível uma pessoa só
dar conta de tudo. “Preparado para ser
pastor 24 horas por dia, o sacerdote é sugado todo o tempo e se dá
desmedidamente, até que começa a sentir os efeitos dessa doação desacerbada.
Muitas vezes, ele começa a se sentir frustrado, irritado e perdido a ponto de
se isolar, a ter crise de fé e de questionar a própria vocação”, revelou a
psicóloga convidada.
Segundo Luciana
Campos, a Síndrome de Burnout é uma
doença silenciosa. E para não deixar que ela se instale, é preciso mudanças,
ter uma agenda com horários específicos. “Precisa
fazer parte da agenda momentos de descanso, lazer e, principalmente, de
socialização. Se faz necessária a socialização com seus pares para discutir
sobre problemas comuns e caminhos para o resgate da saúde emocional”, recomendou
a psicóloga.
Segundo o arcebispo
do Rio de Janeiro Dom Orani Tempesta,
o sacerdote também tem suas necessidades e limitações. Às vezes acaba se
irritando e ficando tenso com algumas situações que enfrenta. Daí a necessidade
de alguém que compreenda e ajude o sacerdote a dar passos. “Só seremos perfeitos no céu. Enquanto
estamos aqui, precisamos nos ajudar mutuamente. Por isso, a necessidade de
rezar, compreender e acompanhar a vida e a missão do sacerdote. E neste
aspecto, a comunidade paroquial pode ajudar a transformar a realidade”,
disse o arcebispo carioca (*).
O dito acima para padres e bispos se
aplica a qualquer pessoa, independente da profissão que exerça. Além da saúde
corporal, cada pessoa precisa cuidar também da saúde mental e espiritual. Essa
tal de “Síndrome de Burnout” se
apresenta muitas vezes de forma escamoteada, escondida, “silenciosa” (nas palavras da psicóloga Luciana Campos). Parece ser
louvável a pessoa se dedicar com coragem e decisão e todo o tempo ao seu
trabalho. Mas quando a gente se esquece do necessário descanso e lazer, o corpo
e a mente vão reclamar. Os sintomas e/ou consequências vão aparecer na forma de
frustração, irritabilidade, isolamento e até crises de fé. Se você chegar a
perceber isso, está na hora de prestar atenção! E mais: buscar cuidados, ajuda
médica ou até orientação psicológica. Pessoas que consultam psicólogos ou até
psiquiatras não significa que estão loucas. É para não chegar a tanto!
(**)
Irmão Hugo Bruno Mombach é religioso
lassalista desde 11/02/1966 e jornalista
profissional (Reg.4065 DRT/RS).
Publicada no jornal “Tribuna Livre” de Santo Cristo/RS
dia 27 de março de 2020.
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