segunda-feira, 7 de setembro de 2020

 Aprendendo sempre

Irmão Hugo Bruno Mombach, FSC (**)

Como vai nossa saúde emocional?

Todos os anos, a Arquidiocese do Rio de Janeiro organiza no Centro de Estudos do Sumaré um curso para os Bispos do Brasil. Na sua 29ª edição, o tema deste ano de 2020 foi “A dinâmica humana e espiritual da formação permanente dos presbíteros”, baseada na ‘Ratio Fundamentalis’, publicada dia 8 de dezembro de 2016 pela Congregação para o Clero, e na ‘Ratio Nacionalis’, aprovada pela Assembleia Geral dos Bispos do Brasil e publicada dia 12 de outubro de 2019 como Documento nº 110 da CNBB.

Neste ano de 2020, o curso contou com a presença de 119 participantes, sendo 66 arcebispos e bispos titulares de dioceses, bispos auxiliares e eméritos e vigários episcopais do Rio. Quatro conferencistas colaboraram na reflexão sobre os vários assuntos estudados pelos participantes. Entre eles uma mulher, a psicóloga Luciana Campos, professora no Seminário São José em Niterói/RJ e autora de vários livros sobre o assunto. Ela partilhou sua experiência no atendimento a sacerdotes de todo o Brasil, tratando do tema “Esgotamento existencial dos presbíteros: causas e pistas para ação das dioceses na prevenção e tratamento”.

“A Síndrome de Burnout é o esgotamento emocional, psíquico e laboral oriundo pelo excesso de trabalho. As pessoas em geral não imaginam que os sacerdotes são acometidos por esses problemas, por isso a importância de dar visibilidade à temática”, explicou. A psicóloga contou que procura ajudar os sacerdotes a serem menos centralizadores, aprenderem a delegar e confiarem nos outros, porque é impossível uma pessoa só dar conta de tudo. “Preparado para ser pastor 24 horas por dia, o sacerdote é sugado todo o tempo e se dá desmedidamente, até que começa a sentir os efeitos dessa doação desacerbada. Muitas vezes, ele começa a se sentir frustrado, irritado e perdido a ponto de se isolar, a ter crise de fé e de questionar a própria vocação”, revelou a psicóloga convidada.

Segundo Luciana Campos, a Síndrome de Burnout é uma doença silenciosa. E para não deixar que ela se instale, é preciso mudanças, ter uma agenda com horários específicos. “Precisa fazer parte da agenda momentos de descanso, lazer e, principalmente, de socialização. Se faz necessária a socialização com seus pares para discutir sobre problemas comuns e caminhos para o resgate da saúde emocional”, recomendou a psicóloga.

Segundo o arcebispo do Rio de Janeiro Dom Orani Tempesta, o sacerdote também tem suas necessidades e limitações. Às vezes acaba se irritando e ficando tenso com algumas situações que enfrenta. Daí a necessidade de alguém que compreenda e ajude o sacerdote a dar passos. “Só seremos perfeitos no céu. Enquanto estamos aqui, precisamos nos ajudar mutuamente. Por isso, a necessidade de rezar, compreender e acompanhar a vida e a missão do sacerdote. E neste aspecto, a comunidade paroquial pode ajudar a transformar a realidade”, disse o arcebispo carioca (*).

O dito acima para padres e bispos se aplica a qualquer pessoa, independente da profissão que exerça. Além da saúde corporal, cada pessoa precisa cuidar também da saúde mental e espiritual. Essa tal de “Síndrome de Burnout” se apresenta muitas vezes de forma escamoteada, escondida, “silenciosa” (nas palavras da psicóloga Luciana Campos). Parece ser louvável a pessoa se dedicar com coragem e decisão e todo o tempo ao seu trabalho. Mas quando a gente se esquece do necessário descanso e lazer, o corpo e a mente vão reclamar. Os sintomas e/ou consequências vão aparecer na forma de frustração, irritabilidade, isolamento e até crises de fé. Se você chegar a perceber isso, está na hora de prestar atenção! E mais: buscar cuidados, ajuda médica ou até orientação psicológica. Pessoas que consultam psicólogos ou até psiquiatras não significa que estão loucas. É para não chegar a tanto!

(*) Fonte web: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-02/curso-dos-bispos.html?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=NewsletterVN-PT

(**) Irmão Hugo Bruno Mombach é religioso lassalista desde 11/02/1966 e jornalista profissional (Reg.4065 DRT/RS).

Publicada no jornal “Tribuna Livre” de Santo Cristo/RS dia 27 de março de 2020.

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