Aprendendo sempre
Irmão Hugo Bruno Mombach, FSC (*)
Bandeira de uma Igreja com rosto amazônico
aponta para um longo caminho
“A
bandeira de uma Igreja pós-colonial, com rosto amazônico, está apontando para
um longo caminho, para uma via-sacra com esperança pascal”. A afirmação é
do padre Paulo Suess, em longa entrevista ao site jesuíta IHU, da Unisinos,
publicada por Ricardo Machado dia 17 de fevereiro passado.
No dia 12 de fevereiro, em que se faz memória do
assassinato da missionária Irmã Dorothy Stang por pistoleiros no Pará, o papa Francisco publicou a Exortação Apostólica Querida
Amazônia,
documento inspirado pelo Documento final do Sínodo
Pan-Amazônico e na sua
Carta Encíclica Laudato si’. O documento é articulado a
partir de quatro eixos - sonhos – campo social (nº 8-27),
cultural (nº 28-40), ecológico (nº 41-60) e eclesial (nº 61-110) – resultado,
também, da escuta de mais de 86 mil pessoas. “A Exortação ‘Querida Amazônia’, em seus três primeiros
capítulos, mostra uma contextualização importante da Encíclica Laudato si’ na Amazônia,
mas decisões internas da Igreja
católica que poderiam, na quarta parte do texto, fortalecer essa
contextualização e sua bandeira ecológica e sociocultural através de uma
presença ministerial plena, aguardam ainda luz verde”, resume o teólogo Paulo Suess, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.
Quanto ao documento
final, seus limites têm a ver com a própria natureza do processo de sinodalidade. “Quando não
se resolvem as questões com autoritarismo ou nos moldes de um sistema
democrático, mesmo funcionando bem, as decisões levam mais tempo. Podemos
aprender isso com os povos
indígenas que discutem noite adentro para conseguir um consenso em
determinadas questões. E nas discussões da Igreja, depois de ter discutido
noite adentro, ainda não podemos ver a estrela da manhã e da unidade que
anunciaria o consenso”, pondera Suess.
“Seguramente, a bandeira de uma Igreja
pós-colonial, inculturada em todas as dimensões
sociais, culturais e pastorais, com rosto amazônico, defensora de todos os habitantes da região,
uma Igreja missionária, militante e martirial está apontando para um
longo caminho, para uma via-sacra com esperança pascal”, complementa.
A propósito, é justamente esse movimento de
esperança que deve animar o trabalho
pastoral da igreja católica junto às populações amazônicas, vilipendiadas de inúmeras formas e
vulneráveis às mais variadas formas de extermínio. “Não temos o direito de privar os povos, em nome de
uma lei humana, da celebração dessa esperança decisiva ou reduzi-la a uma mera
doutrina catequética”, avalia o entrevistado.
Paulo Suess é doutor em Teologia
Fundamental, fundador do curso de Pós-Graduação em Missiologia, na então
Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, assessor
teológico do Conselho Indigenista Missionário - Cimi e professor em várias
Faculdades de Teologia no ciclo de Pós-Graduação em Missiologia. Participou do
Sínodo dos Bispos sobre Amazônia, como perito. Entre suas últimas publicações,
destacamos Introdução à Teologia
da Missão (Petrópolis: Vozes, 4a ed., 2015); Dicionário de Aparecida. 40 palavras-chave
para uma leitura pastoral do Documento de Aparecida (São Paulo:
Paulus, 2007); Dicionário da
Evangelii gaudium (São Paulo: Paulus, 2015); Missão e misericórdia - A transformação
missionária da Igreja segundo a Evangelii gaudium (São Paulo:
Paulinas, 2017); e Dicionário da
Laudato si’ – Sobriedade feliz (São Paulo: Paulus, 2017).
A entrevista é longa. Seria preciso várias
páginas do jornal para transcrevê-la. Por isso, deixo um convite às/aos
leitoras/es interessadas/os: acessem o link abaixo para ler a íntegra da
entrevista; ela vem acompanhada de vários vídeos curtos, além de outros 38
artigos sobre o assunto no excelente site IHU Unisinos, a universidade dos
Jesuítas sediada em São Leopoldo/RS.
(*) Irmão Hugo Bruno Mombach é religioso lassalista desde 1966 e jornalista profissional (Reg.4065
DRT/RS).
Publicada no jornal “Tribuna Livre”
de Santo Cristo/RS dia 10 de abril de 2020, sexta-feira santa da Paixão do
Senhor.
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