segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Aprendendo sempre

Irmão Hugo Bruno Mombach, FSC (*)

Bandeira de uma Igreja com rosto amazônico aponta para um longo caminho

A bandeira de uma Igreja pós-colonial, com rosto amazônico, está apontando para um longo caminho, para uma via-sacra com esperança pascal”. A afirmação é do padre Paulo Suess, em longa entrevista ao site jesuíta IHU, da Unisinos, publicada por Ricardo Machado dia 17 de fevereiro passado.

No dia 12 de fevereiro, em que se faz memória do assassinato da missionária Irmã Dorothy Stang por pistoleiros no Pará, o papa Francisco publicou a Exortação Apostólica Querida Amazônia, documento inspirado pelo Documento final do Sínodo Pan-Amazônico e na sua Carta Encíclica Laudato si’. O documento é articulado a partir de quatro eixos - sonhos – campo social (nº 8-27), cultural (nº 28-40), ecológico (nº 41-60) e eclesial (nº 61-110) – resultado, também, da escuta de mais de 86 mil pessoas. “A Exortação ‘Querida Amazônia’, em seus três primeiros capítulos, mostra uma contextualização importante da Encíclica Laudato si’ na Amazônia, mas decisões internas da Igreja católica que poderiam, na quarta parte do texto, fortalecer essa contextualização e sua bandeira ecológica e sociocultural através de uma presença ministerial plena, aguardam ainda luz verde”, resume o teólogo Paulo Suess, em entrevista por e-mail à IHU On-Line.

Quanto ao documento final, seus limites têm a ver com a própria natureza do processo de sinodalidade. “Quando não se resolvem as questões com autoritarismo ou nos moldes de um sistema democrático, mesmo funcionando bem, as decisões levam mais tempo. Podemos aprender isso com os povos indígenas que discutem noite adentro para conseguir um consenso em determinadas questões. E nas discussões da Igreja, depois de ter discutido noite adentro, ainda não podemos ver a estrela da manhã e da unidade que anunciaria o consenso”, pondera Suess. “Seguramente, a bandeira de uma Igreja pós-colonialinculturada em todas as dimensões sociais, culturais e pastorais, com rosto amazônico, defensora de todos os habitantes da região, uma Igreja missionáriamilitante e martirial está apontando para um longo caminho, para uma via-sacra com esperança pascal”, complementa.

A propósito, é justamente esse movimento de esperança que deve animar o trabalho pastoral da igreja católica junto às populações amazônicas, vilipendiadas de inúmeras formas e vulneráveis às mais variadas formas de extermínio. “Não temos o direito de privar os povos, em nome de uma lei humana, da celebração dessa esperança decisiva ou reduzi-la a uma mera doutrina catequética”, avalia o entrevistado.

Paulo Suess é doutor em Teologia Fundamental, fundador do curso de Pós-Graduação em Missiologia, na então Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário - Cimi e professor em várias Faculdades de Teologia no ciclo de Pós-Graduação em Missiologia. Participou do Sínodo dos Bispos sobre Amazônia, como perito. Entre suas últimas publicações, destacamos Introdução à Teologia da Missão (Petrópolis: Vozes, 4a ed., 2015); Dicionário de Aparecida. 40 palavras-chave para uma leitura pastoral do Documento de Aparecida (São Paulo: Paulus, 2007); Dicionário da Evangelii gaudium (São Paulo: Paulus, 2015); Missão e misericórdia - A transformação missionária da Igreja segundo a Evangelii gaudium (São Paulo: Paulinas, 2017); e Dicionário da Laudato si’ – Sobriedade feliz (São Paulo: Paulus, 2017).

A entrevista é longa. Seria preciso várias páginas do jornal para transcrevê-la. Por isso, deixo um convite às/aos leitoras/es interessadas/os: acessem o link abaixo para ler a íntegra da entrevista; ela vem acompanhada de vários vídeos curtos, além de outros 38 artigos sobre o assunto no excelente site IHU Unisinos, a universidade dos Jesuítas sediada em São Leopoldo/RS.

Fonte web: http://www.ihu.unisinos.br/596326-a-bandeira-de-uma-igreja-pos-colonial-com-rosto-amazonico-esta-apontando-para-um-longo-caminho-para-uma-via-sacra-com-esperanca-pascal-entrevista-especial-com-paulo-suess

(*) Irmão Hugo Bruno Mombach é religioso lassalista desde 1966 e jornalista profissional (Reg.4065 DRT/RS).

Publicada no jornal “Tribuna Livre” de Santo Cristo/RS dia 10 de abril de 2020, sexta-feira santa da Paixão do Senhor.

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