segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Aprendendo sempre

Irmão Hugo Bruno Mombach, FSC (*)

Papa Francisco convoca Pacto Educativo Global para maio

Em meados de dezembro do ano passado o secretário da Congregação para a Educação Católica, dom Vincenzo Zani, apresentou em Roma a todos os embaixadores junto à Santa Sé a mensagem do Papa Francisco para o lançamento do Pacto Global pela Educação. O arcebispo traçou um percurso de preparação e aproximação, com os representantes diplomáticos, para o grande evento previsto para maio deste ano.

A iniciativa se insere no percurso traçado desde o Concílio Vaticano II até hoje no que diz respeito à educação e vê no Papa Francisco o Pontífice que sublinha – talvez bem mais que todos os outros – o aspecto educacional como um instrumento importante para formar as gerações futuras, destacando o conceito de “pacto educacional”, com o objetivo de criar sinergias entre todas as pessoas que trabalham nos vários campos da vida social, civil, política e econômica, para investir as melhores energias em favor das gerações futuras.

O motivo que levou o Papa a assumir essa iniciativa foi porque ele recebeu vários pedidos e perguntas – não somente de ambientes cristãos católicos, mas também de não cristãos e não católicos – solicitando ao Santo Padre para promover um momento oficial mundial a fim de chamar a atenção para esse assunto. Nesse sentido, antes de falar da centralidade da pessoa, o Papa Francisco em sua mensagem introduz outro conceito, ao citar um ditado africano que afirma: “Para educar uma criança é necessária uma aldeia inteira”. Assim, ele sublinha ainda mais a necessidade dessa sinergia, da aliança entre todos, com todos os instrumentos possíveis, ou seja, com percursos educacionais formais e informais. Não há somente a escola, não há somente a universidade. Existem muitos aspectos na vida de uma pessoa que podem ser conjugados em chave educacional.

Nesse pacto educacional deve haver uma aliança entre família e escola e entre família e educadores, para encontrar um âmbito comum de colonizações ideológicas que crie a uma pessoa humana capaz de enfrentar os desafios de amanhã. E o Papa Francisco diz isso claramente: “Primeiro uma aliança entre todos as componentes da pessoa, para ajudar a pessoa a se integrar em si mesma; uma educação integral entre todas as dimensões da pessoa, para depois então ser ajudada a viver a relação entre estudo e vida, e também entre gerações”. Portanto, isso requer um grande acordo entre professores, alunos, famílias e sociedade com todas as suas expressões. A família em primeiro lugar, mas também todas as outras expressões da vida social, ou seja, as expressões intelectuais, científicas, artísticas, esportivas, políticas e empresariais. Nesse sentido, todos são destinatários do encontro de 14 de maio: todas as expressões da vida social e civil, os prêmios Nobel da Paz, os representantes das religiões e os representantes ecumênicos. Devemos colocar para fora tudo o que há de positivo, e é muito, e já existe no mundo, para dar essa conotação estratégica e positiva do investimento das melhores energias.

Existe um ponto comum a partir do qual dar impulso? A indagação foi do Vatican News. Dom Zani respondeu que “o dia 14 de maio não é o ponto de chegada, e sim o ponto de partida. E nos meses anteriores haverá 13 conferências, seminários e fóruns de preparação para aprofundar as várias facetas da educação e chegar a 14 de maio com um relatório a ser enviado aos representantes das várias expressões da vida social, civil, política e religiosa e, a partir daí, começar com os objetivos, que serão os compromissos sucessivos”. E acrescentou: “Queremos compartilhar esse momento com os embaixadores que têm ligação com os diferentes países do mundo para ilustrar o objetivo e também dar-lhes algumas indicações. Já foram constituídos comitês na América Latina e na África. Essa mensagem já chegou ao seu destino e temos uma onda que retorna muito, muito interessante. Com os embaixadores, queremos discutir juntos”.

No Brasil, tal como em muitos outros países do mundo, o assunto também está merecendo grande atenção por parte da Igreja Católica. Nesse sentido, as diretorias da CNBB, CRB e ANEC estão trabalhando em conjunto no objetivo de “renovar a paixão por uma educação alicerçada nos princípios do humanismo solidário em prol das futuras gerações”, atendendo a convocação do Papa Francisco para celebrar o “Pacto Educativo Global”, a ser realizado em Roma em maio de 2020. Este Pacto se insere nas comemorações dos cinco anos da Encíclica “Laudato sí” e da assinatura do documento sobre Fraternidade Humana, em visita aos países unidos dos Emirados Árabes, que propõe gerar uma mudança de mentalidade em escala planetária por meio da educação.

A contínua transformação do mundo contemporâneo, tanto em nível cultural quanto antropológico, exige uma educação que possibilite à pessoa humana estabelecer relações fraternas e sempre abertas ao outro. A imagem tomada pelo Papa do provérbio africano – “para educar uma criança é necessária uma aldeia inteira” –, expressa bem a necessidade de renovar o compromisso de toda sociedade, a fim de que as futuras gerações sejam educadas para o diálogo e a fraternidade.

Neste sentido, a Igreja no Brasil, por meio da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e Educação da CNBB, a Associação Nacional de Educação Católica (ANEC) e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) propõem um caminho de vivência e partilha em preparação à celebração desse “Pacto Educativo Global”. Para que esse tempo seja fecundo, são incentivadas ações propositivas e partilhas de experiências que possam aprofundar a dimensão antropológica, comunicativa, cultural, econômica, geracional, inter-religiosa, pedagógica e social do Pacto Global.

O lançamento nacional do Pacto acontecerá em Brasília, na sede da CNBB, no dia 31 de janeiro e no 3º Fórum Nacional de Agentes de Pastoral e 6º Fórum Nacional de Educação Básica da ANEC, no dia 16 de abril 2020. Além disso, outras atividades serão organizadas nos Regionais no decorrer do ano, e um guia de orientação será publicado no final de janeiro 2020. Com isso, cada escola, universidade e comunidade é chamada a promover momentos de estudo e reflexão sobre a proposta do Pacto Educativo Global.

O chamado a reconstruir o Pacto Educativo Global é um apelo a cada pessoa para que se torne “protagonista desta aliança, assumindo o compromisso pessoal e comunitário de cultivar, juntos, o sonho de um humanismo solidário, que corresponda às expectativas da humanidade e ao desígnio de Deus”.

Com informações da CRB Nacional: http://crbnacional.org.br/o-papa-francisco-convoca-a-celebracao-do-pacto-educativo-global/ e http://crbnacional.org.br/cnbb-anec-e-crb-lancam-o-pacto-educativo-global-em-brasilia/

(*) Irmão Hugo Bruno Mombach é religioso lassalista há 54 anos e jornalista profissional (Reg.4065 DRT/RS).

Publicada dia 31 de janeiro de 2020.

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