sábado, 19 de setembro de 2009

Pessoas bem educadas não gritam

Hoje compartilho um bom artigo do cônego mineiro José Vidigal de Carvalho, intitulado "a boa educação", com data de 15/09/2009.
A boa educação
Ser sinal e instrumento do espírito, eis a missão fundamental do corpo humano. Várias ações da alma e do corpo se implicam mutuamente como fenômenos concomitantes. Aliás, já se diagnosticou o desrespeito, em nossos dias, tão acentuado no relacionamento entre pessoas, pelo desleixo com um ritual que, em priscas eras, era altamente formativo. Hoje se fulmina facilmente o semelhante com a protérvia do menoscabo. César Netto vazou numa frase fagulhante a importância da cortesia e do urbanismo: “Polir os costumes é exercer uma função de alta benemerência”. E na feliz expressão de Jean Bergès: “O gesto é uma ponte estendida em direção a outrem”.
Com efeito, a postura correta, o respeito aos outros, a capacidade de interessar-se, o desejo de não ofender, o impulso, o calor, o entusiasmo, eis as molas da motricidade, traços da personalidade sadia que provocam, encorajam e sustentam a atividade, conferindo-lhe, ao mesmo tempo, certa forma dinâmica e representando o fim a atingir como sendo desejável e capaz de promover o bem-estar social. Novos brigões e espadachins, os quais, antigamente, alardeavam a destreza de seu florete e suscitavam, para tanto, agravos e injúrias, hoje aparecem sob outra forma e são os que se blasonam de seus despautérios, contestando autoridades ou fazendo de seus veículos motorizados armas que matam, arrasam, trucidam ou, mesmo gritando, incomodando as pessoas. Aliás, seja dito que gente bem educada não grita. Nas estradas, e o que é pior ainda, nas ruas das vilas e cidades, atitudes impensadas de jovens desabridos, colocando em risco vidas preciosas, numa belicosidade que faria inveja aos bárbaros e ofendendo os ouvidos alheios com alarido selvagem e palavrões indignos de quem vive no século XXI.
É de se lamentar que não pese sobre tais pessoas a manopla acerada da justiça, pois até os pais e mestres, recalcitrantes ante comportamento tão indigno, deveriam levar a sério sua tarefa, tutelando e resguardando a dignidade dos filhos e o direito dos outros. Existe como que uma sedução insinuante na má conduta, presa nos lúgubres tentáculos de um ativismo condenável. Muitos são os que se afoitam à agressão física, após atropelar todas as regras do urbanismo. Busca de fortes emoções que arriscam a própria existência e o bem-estar geral. Cumpre uma regeneração que só uma boa educação fará surgir.
Faz-se mister instituir novamente o magistério do bom tom, a alta escola da civilidade, da polidez, de usos menos selvagens e deprimentes, eivados de brusquidão. Precisão imediata de se depurar os gestos, suavizando e aprimorando a apresentação em público. Retorno ao donaire dentro de casa e das escolas. Até na linguagem, uma volta a expressões mais ataviadas, envoltas na pulcritude da candura e da simplicidade. Revisão urgente contra a bruteza e a truculência, à algazarra. Não se preconiza, é óbvio, uma etiqueta artificial ou normas postiças, vazias em si mesmas, sintomas de medo e falsidade. Seria grave erro endeusar de fausses grâces, la minauderie, l’affeterie, la fausse dignité, la fausse modestie, la fausse pieté, la fausse douleur da grã-finagem fora de moda, ademanes condenados pelos próprios franceses. (Nota: segue a tradução dessas palavras em francês do cônego Vidigal, para quem não estudou e não entende a bela língua do grande poeta francês Victor Hugo: falsas formosuras/belezas, os requebros ou denguices, a presunção, a falsa dignidade, a falsa modéstia, a falsa piedade, a falsa dor da grã-finagem... ).
O problema é o abandono acintoso das leis do cavalheirismo, que é índice de uma delicadeza cordial que se extravasa no acatamento, cheio de sentido, e em outras posturas merecedoras de encômios. Não se pode menoscabar a influição valorativa dos esquemas corporais e suas belezas simbólicas. São formas, limites, qualidades em consonância com modelos em vista a uma sintonia social. Daí a moderação, a reserva, a elegância que embelezam o trato mútuo. Como foi dito acima, pessoas bem educadas não gritam!

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