segunda-feira, 24 de agosto de 2009

É Marina Silva mesmo um cacho de rom

Marina Silva, um cacho de romãs
Ivanisa Teitelroit Martins, especialista em políticas sociais e psicanalista
A romanzeira dá uma flor que se transforma em cachos de pequenos frutos vermelhos. É preciso tratar esses frutos com delicadeza. Para que sejam sumarentos, a romanzeira precisa de um solo especial e para soltar os frutos é preciso dar uma pancada de leve em sua casca. Assim os frutos se desprenderão caindo em um alguidar ou um prato, sendo envolvidos por bastante sumo das próprias romãs maceradas.
Nos textos sagrados, principalmente no Velho Testamento, encontramos a romanzeira ou a romã onze vezes, nos textos clássicos, encontramos em Shakespeare. Em “Romeu e Julieta” há uma romãzeira às voltas com o rouxinol e a cotovia; em Eça de Queiroz, em “Primo Basílio”; também encontramos em Oswald de Andrade, o modernista; assim como em Veríssimo Érico e nos artigos de Veríssimo, o jovem; Tárik Ali também escreveu “Sombras da Romanzeira”. Mas são poucos aqueles que se arriscam a escrever sobre romãs.
A Senadora Marina Silva recebeu essa semana tanto por parte das revistas semanais, como por parte dos jornais, um destaque que seria inimaginável semanas atrás quando ela ainda tentava arduamente aprovar projetos no Senado em defesa da causa ambiental. Antes de se afastar do governo em maio de 2008, Marina Silva era a Ministra do Meio Ambiente. Agora a Senadora Marina Silva se tornou uma perspectiva para 2010, uma possibilidade de se fazer o debate programático e não somente disputar, através de estatísticas e metas realizadas ou por realizar, a paternidade de propostas que somente dão continuidade a modelos econômicos e sociais superados. A Senadora Marina Silva em uma semana passou a representar uma possibilidade: a ruptura de uma polarização pré-eleitoral que não tem propiciado o lançamento de novas candidaturas e nem a emergência de novas lideranças na conquista de cargos majoritários, em especial a Presidência da República.
O jogo de cartas previamente marcadas deixa, tanto no eleitor quanto nos pesquisadores de opinião, a sensação de que há pouca margem para a surpresa e pouca chance para o acaso. Ainda mais quando se percebe a dificuldade em se votar uma reforma política que reúna os campos ideológicos em poucas legendas, para que um governo não se torne refém de uma série de pequenos partidos que se formam em função de interesses fisiológicos.
Pelo que se vê, finalmente na imprensa, é a história de uma mulher que é um verdadeiro cacho de romãs. Se antes Chico Mendes foi assassinado por falta de apoio da mídia nativa, agora a Senadora Marina Silva ganhou expressão e identidade nacional.
Os motivos são em parte nobres e em parte não são tão nobres assim. E até mesmo o sonho e a utopia ganham a fama da impossibilidade quando os arautos do pós-modernismo alertam que não há no mundo espaço para a utopia. E se não há utopia, prevalece o discurso apocalítico, o discurso das catástrofes e dos desastres.
Marina, a companheira e irmã de tantas lutas, seja ao lado do Presidente Lula como ao lado de grandes lideranças sindicais e dos movimentos sociais, se torna uma sabiá, como cantava Chico Buarque, cujo canto por enquanto é um sussurro enquanto ela procura escutar os sussurros de seu coração. É bom lembrar que o cacho de romãs já se abriu de par em par e seus frutos pedem para ser lançados com delicadeza no alguidar das lutas democráticas, sociais e de preservação do meio ambiente, com o significado que o Brasil herdou, por sua floresta e seu rio mais caudaloso e extenso, como fonte de vida, umidade, biodiversidade e energia limpa.

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