Educação
popular para o bem-viver
Padre
Sandoval
Alves Rocha, SJ – Dia 22 de outubro de 2021
O Serviço Amazônico de Ação, Reflexão e Educação
Socioambiental – SARES – promoveu entre 15 e 17 de outubro um seminário sobre
Educação Popular, visando contextualizar a pedagogia de Paulo Freire (1921 –
1997) no meio amazônico. Reconhecido mundialmente pela sua contribuição no
entendimento da educação como instrumento de libertação e humanização, Freire é
o Patrono da Educação Brasileira e inspira a muitos pedagogos, intelectuais e
lideranças na busca de uma sociedade justa e solidária.
O seminário trouxe muitos ensinamentos do educador,
renovando a esperança dos participantes neste tempo de pandemia em que os
principais líderes políticos do Brasil se omitem diante da tragédia causada
pela covid-19 e muitos outros ainda agem com irresponsabilidade perante a
obrigação de cuidar da saúde do povo brasileiro. Nesse sentido os ensinamentos
de Paulo Freire adquirem uma tônica de denúncia e ao mesmo tempo solidariedade.
No território amazônico em que é visível um
contexto de pluralismo ético e cultural, o mencionado pensador instiga a
atitude de respeito aos diferentes povos e culturas, sugerindo que a Educação
deve estar sintonizada com a diversidade de valores, estilos de vida e
compreensões da realidade numa permanente troca de experiências e
conhecimentos.
O pensamento de Freire valoriza os conhecimentos da
região amazônica, impulsionando a criação de redes de sustentabilidade entre os
diversos atores locais que buscam manter a integridade do território e promover
a dignidade dos povos e do meio ambiente. Nesse sentido é essencial que haja
uma mudança na relação entre a sociedade e a natureza, visando uma atitude de
cuidado e preservação.
Valorizando os conhecimentos nativos que foram
gerados em forte interação com o meio ambiente, as elaborações do Patrono da
Educação sugerem a ruptura da mentalidade colonialista que é imposta de cima
para baixa e de fora para dentro causando a destruição da região e colocando em
perigo a vida local e planetária. A pirataria de conhecimentos e da
biodiversidade promovida por grandes empresas transnacionais é outro elemento
que não tem espaço na educação popular, pois não traz nenhum beneficio para a
população do lugar e a subordina a interesses alheios.
A educação popular promove o engajamento político
da população, pois este é o espaço das decisões de grande repercussão e
oportuniza o protagonismo da população na construção de uma sociedade justa e
sustentável. Trata-se da boa política, que reforça a democracia e o poder
popular, visando eliminar ações e atitudes autoritárias, genocidas e
intolerantes. Tal modelo de educação resgata a importância das culturas
indígenas criando emancipação e evidenciando modelos econômicos alternativos
que respeitam o meio ambiente e dialogam com as reais necessidades das
comunidades.
Para Freire, o pilar de todo processo educativo é o
amor, pois ele abre o ser humano ao diálogo, à solidariedade para com os
oprimidos, incentivando ações que promovem a vida, a transformação social, a
dignidade e a autonomia dos sujeitos. Este amor se rebela contra a destruição e
rechaça a mentira e a manipulação. Esse amor libertador ressalta que o homem é
um ser social e ambiental.
Padre Sandoval Alves
Rocha é doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio, mestre em Ciências Sociais
pela Unisinos/RS, bacharel em Teologia e bacharel em Filosofia pela Faculdade
Jesuíta de Filosofia e Teologia (MG). Membro da Companhia de Jesus (Jesuíta),
atualmente é professor da Unisinos e colabora no Serviço Amazônico de Ação,
Reflexão e Educação Socioambiental (Sares), sediado em Manaus/AM.
Fonte web: https://amazonasatual.com.br/educacao-popular-para-o-bem-viver/
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