segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Centenário de nascimento de dom Helder Câmara

Faço minhas as palavras do médico José Maria Arruda Pontes sobre os 100 anos de nascimento do grande bispo que foi dom Hélder Câmara, no próximo dia 7 de fevereiro, quando será lançado selo pela data. Tive a sorte de conhecer o grande dom Hélder nos anos 80, em POA, quando foi convidado numa promoção do diretório acadêmico de Teologia da PUC-RS. Encantou a mim e a todos pela sua humildade e simplicidade e ao mesmo tempo profundidade no trato dos temas humanos e teológicos...
Conversando com dom Hélder Câmara
Domingo, 25 de Janeiro de 2009.
Meu caro amigo, Dom Hélder, hoje acordei um pouco confuso, com um sentimento misto de alegria e tristeza: alegria por saber, que estaremos neste 7 de fevereiro festejando seu centenário de nascimento; tristeza por sentir uma grande frustração por não ver o poder público da minha cidade, também sua cidade natal, lhe prestando uma merecida homenagem, por tudo que você fez pelas pessoas pobres e simples, pelos presos e perseguidos políticos e pela sua luta incansável contra as injustiças e em favor da paz no mundo.
Mesmo sabendo que você não quer nenhuma homenagem material, eu ficaria muito feliz por ver a Prefeitura da nossa cidade ou o Governo do Estado, construindo um Memorial pela Paz que levasse seu nome. Que belo reconhecimento! Sei que o fim da violência e das injustiças seria o melhor presente de aniversário que gostaria de receber.
Sabe, meu querido Pastor, queria lhe confessar que um dos momentos de maior alegria de minha vida foi quando beijei sua mão lá no Ginásio Paulo Sarasate, naquela sua conferência fenomenal em favor do fim da miséria e da fome no planeta. Andei lendo sobre sua vida, sei que quando você ia à França, denunciar as torturas contra os presos políticos no Brasil, a Sorbonne parava para lhe ouvir. Sei também o quanto você era respeitado na cúpula do Vaticano, mesmo que nem todos concordassem com suas idéias.
Também li que, por várias vezes, você foi ameaçado de morte, devido à sua posição intransigente em defesa dos mais humildes e contra as torturas, inclusive sei que sua casa em Olinda foi metralhada. Mas que povo violento! Outro dia me contaram que, por quatro vezes, você teve seu nome lembrado para receber o Prêmio Nobel da Paz e que só não aconteceu devido a uma campanha caluniosa, do governo brasileiro na Europa, contra sua pessoa. Que injustiça! Também me falaram que diariamente, após sua missa matinal em Olinda, o sacristão saía ao redor da igreja e as quatro primeiras pessoas mais simples que encontrava eram convidadas para sentar à sua mesa e, juntos, tomar o café da manhã. Que exemplo de vida!
Eu tenho uma curiosidade de saber que fim levou o seu crucifixo de madeira que sempre carregava no peito? Também gostaria de saber como alguém tão frágil fisicamente se agigantava diante das injustiças e dos poderosos? Conversar com você é uma maneira de acreditar na vida e continuar a ter esperança que é possível mudar o mundo através do amor. A lembrança do seu sorriso inesquecível é o melhor caminho para acreditar que a paz no mundo não é uma utopia.
Depois que você partiu para sua última viagem, todos nós ficamos tristes, choramos pela sua ida e um grande vácuo ocupou nossos corações. Sei que lá de cima você continua defendendo os humildes e oprimidos, pedindo a Deus que seu grande sonho, de acabar com a miséria e a fome, seja alcançado. Sua frase inesquecível 'Sem justiça social, não teremos paz' será sempre lembrada pelas pessoas de bem. Obrigado por me ouvir, não precisa responder, só saiba que a semente de justiça que você plantou entre nós jamais morrerá. Até qualquer dia e parabéns pelo seu aniversário, que se aproxima.
José Maria Arruda Pontes, médico – e-mail: josemariapontes@gmail.com
Fonte: O Povo